The Love Talker

Elizabeth Peters

1980

SINOPSE:

Laurie finalmente retornou a Idlewood, a amada casa da família que ficava nas florestas de Maryland e onde ela encontrou conforto e amor quando criança. Mas as coisas estão muito diferente agora. Não há paz em Idlewood. O som sobrenatural de uma flauta distante quebra a quietude das noites de inverno. Eventos randômicos tem adquirido formas sinistras e a querida tia Lizzie está convencida de que fadas existem - e ela tem fotografias para provar. Para Laurie algo se tornou perturbadoramente claro: há algo lá fora, na floresta - algo inamistoso, malevolente e humano -  e as vidas dos seus amados tios, assim como a dela própria, estão em risco.

COMENTÁRIOS:

A protagonista, Laurie Carlson, começa este livro pensando sobre um relacionamento que acabou de chegar ao fim de forma desastrosa e sobre a sua dissertação de graduação em História medieval, mas em poucos parágrafos, a história dá uma guinada.
Laurie havia sido criada pelos tios avós Morton (um tio e duas tias, sendo que a sua avó já estava morta na época) e, logo no inicio da história, ela recebe uma carta da tia Ida demonstrando preocupação com a irmã mais nova, a tia Lizzy (que no caso estava literalmente caçando fadas).
Para intensificar a preocupação, seu meio irmão, Doug Wright, telefona na sequência, contando que também havia recebido uma carta da tia Ida. Como resultado da conversa os dois decidem visitar os tios o mais breve possível, viajando juntos para a casa da família Morton, chamada Idlewood, em Maryland
Eles encontram tudo normal e ao mesmo tempo diferente. Há um inquilino no chalé da propriedade chamado Jeff, um escritor que ajuda na manutenção da casa e cumpre algumas tarefas para os irmãos.
Os meio irmãos se sentem culpados por terem ficado dois anos sem visitar os tios, envolvidos em suas vidas (Doug com um escritório de arquitetura que ia de mal a pior e Laurie encerrando sua graduação) e resolvem ficar na casa da família por algumas semanas, até descobrirem o que está errado. 
Tia Ida não quer falar sobre o assunto, apesar de ter enviado as cartas, tia Lizzie foge sempre que se toca na palavra "fadas" e o tio Ned parece não saber de nada (alias, ele tem uma cachorra divertida e fofa, enquanto dois gatos também vivem na casa).
O pouco que a dupla de "investigadores" consegue descobrir logo de cara é que tia Ida está muito cansada e estressada e que tia Lizzie tem fotografias de fadas que ela alega serem reais. Depois de muita insistência Laurie consegue ver estas fotos e fica em choque, pois as tais fotos parecem verdadeiras. A tia alega que quem lhe deu as imagens fora uma das meninas Wilson, família que arrendava uma fazendinha na propriedade dos Morton.
As coisas começam a piorar quando Laurie começa a ouvir flautas sendo tocadas durante a madrugada, começa a ver estranhas luzes flutuantes no jardim, tia Lizzie tenta sair de casa sonambula, a moça é atropelada pelo carro da família... junte tudo isso ao relacionamento engraçado e ao mesmo tempo difícil dos irmãos, que não se viam desde crianças e não se comportam como irmãos, o faz tudo da casa extremamente bonito, a família das meninas cujo pai fanático religioso não quer saber de coisas pagãs como fadas e segredos do passado e bum... um livro divertido ao estilo mais Barbara Michaels.
Alguns dos livros de Peters / Michaels são muito engraçados, alguns me fazem lembrar de Mary Stewart, outros são mais densos, mais dramáticos, ou então envolvem sobrenatural. Este é do tipo engraçado lembrando Mary Stewart e valeu a leitura. Há ironia, um tom de cinismo, uma bela descrição do ambiente, personagens dos quais é fácil gostar (especialmente Doug) e, apesar de ter sido escrito nos anos 80, eu visualizei a história como se fosse nos anos 60, pois foi a sensação que eu tive. Já vi que muitas pessoas reclamam de livros "datados". Eu confesso que gosto de livros com estas características, pois é como viajar no tempo. 
Recomendo e está na minha lista dos cinco favoritos Peters / Michaels.


EBOOK (Inglês)!


Capa vintage.
Sempre as melhores.

Eu acho que deveria ter uma fada nesta capa,
 e não um pássaro. 
Alias, não entendi o porquê deste pássaro.

Still Lake

Anne Stuart

SINOPSE:

Comprar uma bela e antiga casa de fazenda em Vermont (mesmo que nela tenha ocorrido um crime anos atrás) é como Sophie Davis recomeça a vida, em companhia da mãe (Grace) e da meia irmã mais nova (Marty), deixando para trás (ela espera) os problemas da cidade grande e mudando o comportamento de Marty, sempre envolvida em problemas.
Tudo muda quando John Smith se muda para a casa ao lado. Quem ele é? Por que ele insiste em ficar em uma casa caindo aos pedaços? Que segredos ele guarda? Qual seu interesse na fazenda?

COMENTÁRIOS:

Sophie se muda para Vermont com a mãe e a irmã mais nova após comprar uma casa grande e antiga chamada Stonegate Farm, pretendendo abrir uma hospedaria. Só após a mudança ela descobre que 20 anos atrás um assassino matara 3 moças em sua atual casa. Para a mãe de Sophie é um prato cheio, já que ela adora livros policiais. Para a irmã é uma forma de se destacar entre os outros jovens. Para Sophie não faz diferença, já que o criminoso havia sido preso e ficaria preso por toda a vida. Pelo menos era o que todos pensavam.
John Smith, ou melhor, Thomas Griffen, retorna a Vermont a fim de conseguir algumas respostas. 20 anos atrás, após uma bebedeira, ele acordara coberto de sangue e sem lembrar nada. Havia sido preso e passara anos na prisão até conseguir ser solto por conta de um erro técnico. Disposto a lembrar o que ocorrera há 20 anos, apenas a bela vizinha poderia distraí-lo de seu objetivo.
Pensei que seria mais suspense e investigação do que romance, mas na verdade temos mais romance do que suspense e investigação. Eu gostei do livro, realmente, apesar da parte de suspense ser fraca e de eu ter descoberto quem era o verdadeiro criminoso mal ele apareceu.
A obviedade não desmerece a história, pois o romance é interessante e, apesar do mocinho ser um grosso de carteirinha, a protagonista consegue se impor e levá-lo a tratá-la de forma "decente". Recomendo. Suspense leve, romance intenso, bem escrito ;-)

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Bela capa ^.^

Metamorfose?

Changeless - Metamorfose?

The Parasol Protectorate Vol 2 - O Protetorado da Sombrinha vol 2

Gail Carriger

2010




SINOPSE:

Alexia Maccon, a esposa do Conde de Woolsey, é arrancada do sono cedo demais, no meio da tarde, porque o marido, que deveria estar dormindo como qualquer lobisomem normal, está aos berros. Dali a pouco, ele desaparece – deixando a cargo dela um regimento de soldados sobrenaturais acampados no jardim, vários fantasmas exorcizados e uma Rainha Vitória indignada. Mas Lady Maccon conta com sua fiel sombrinha, seus artigos da última moda e seu arsenal de respostas mordazes. Mesmo quando suas investigações a levam à Escócia, o cafundó do Judas onde abundam abomináveis coletes, ela está preparada e acaba provocando uma verdadeira reviravolta na dinâmica da alcateia, como só uma preternatural é capaz de fazer. Talvez até encontre tempo para procurar seu imprevisível marido. Mas apenas se... lhe der vontade. 

COMENTÁRIOS:


O primeiro livro, apesar de todos os defeitos que eu já apontei, pelo menos me deixou curiosa e me fez rir em várias sequências. Até mesmo me afeiçoeei a alguns personagens, mas, neste segundo volume, eu me senti entediada a maior parte do tempo. A trama é fraca, o desenvolvimento absurdamente lento e alguns personagens simplesmente não interagem. Se Lord Maccon não bancasse o idiota completo, escondendo tudo de Alexia, os dois teriam resolvido o problema muito mais cedo, alias, como gostar de um casal que só interage em cenas de sexo? Os dois simplesmente não conversavam e nem compartilhavam nada.
Eu confesso que a certa altura não estava mais dando a mínima para o que estava causando a perda de "poderes" das criaturas sobrenaturais, uma vez que essa trama parecia não ir a lugar algum. Para piorar, Alexia, que no primeiro livro se mostrara uma pessoa divertida e acessível, simplesmente virou uma pessoa esnobe e arrogante, se metendo na vida amorosa da amiga e tentando afastá-la do homem por quem ela estava interessada porque ele era de classe inferior, um ator e logo se tornaria um lobisomem, o que faria com que a moça não fosse bem vista pela maior parte da sociedade. Sério isso?! Ah, e eu perdi a conta de quantas vezes eu li e reli que Alexia tinha o nariz muito grande e a pele muito escura para estar na moda. Por favor, chega disso, quem está lendo o segundo livro já está cansado de saber como Alexia é fisicamente.
A parte relacionada ao humor deu muito errado. As personagens novas são entediantes, as antigas se comportam de forma entediante, os protagonistas perderam o charme, o mistério não instiga e tudo parece que não vai chegar ao fim nunca. Para completar o desastre, quando finalmente chegamos ao fim a autora solta uma bomba que, para mim (e, pelo que sei, para um grupo bem grande de leitores), destruiu com o protagonista. Não importa o que ela faça, na minha opinião não tem perdão o comportamento dele. E eu também acho detestável quando um autor termina um livro no meio da cena, se é que posso me expressar assim. É como você estar lendo e alguém tirar o livro das suas mãos antes que você consiga terminar o paragrafo. Forma descarada de vender livros e de ser desrespeitoso com os leitores. Eu vou dar uma olhada no livro seguinte, mas já não tenho mais nenhuma espectativa em relação a ele. 


Quadrinhos 10 - Marada, a Mulher Lobo






















Marada, the She-Wolf

Escrita por Chris Claremont.


Ilustrada por John Bolton.


Primeira edição pela Globo, sob o selo Graphic Novel (Marvel) em 1989.




SOBRE:

A história inicialmente foi imaginada para pertencer a Sonja mas, devido a problemas com o filme que estava sendo feito na época, acabaram por criar uma nova personagem, mudando o cenário da época Hiboriana (Sonja), para o Império Romano e mudando os cabelos de vermelhos, para "prateados".



Marada é conhecida como descendente de Cesar, mas não chegamos a saber de qual Cesar ela era descendente. Sua mãe havia fugido com ela de Roma e a criara entre os Celtas. Seu pai fora torturado e morto no dia da fuga da esposa e da filha. 20 anos passados, Marada é conhecida como uma guerreira selvagem, daí sua alcunha de Mulher lobo.





Esta revista começa com Marada sendo resgatada de mercenários pelo guerreiro nobre Donal MacLlanllwyr, antigo companheiro de armas. O mistério inicial é o porquê de Marada ter esquecido de seu passado e ter perdido seus dons de guerreira. Sem lembrar de quem realmente é, ela fica hospedada no castelo de Donal, junto a seu povo, mãe e filha (a princesa Arianrod), mas a segurança é apenas uma ilusão e eles são atacados por uma criatura mágica, enviada pelos inimigos da protagonista (nada demais, só um mago poderoso e um demônio). Durante o ataque Donal é gravemente ferido, o que leva Marada e a jovem princesa a uma cruzada que as colocará diante dos inimigos e ao alcance de vários perigos.
Para quem gosta de RPG, como eu, ler esta revista resulta em uma satisfação dupla; uma boa história repleta de lutas e magia (semelhante a uma campanha de RPG) e uma arte lindíssima. Fiquei muito triste por terem publicado apenas este volume.



Marada surgiu nas páginas da revista Epic Illustrated # 10, em fevereiro de 1982 e depois ganhou uma graphic novel pela Marvel Comics. Apenas a Graphic Novel foi publicada aqui. A Titan Comics lançou uma edição com todas as histórias, artes restauradas, informações históricas, esketches e desenhos inéditos em 2012, se não me engano. Infelizmente não tenho esta edição, apenas a Graphic Novel de 1989.






Watch the Wall, my Darling

Jane Aiken Hodge

SINOPSE:

O título deste livro vem do poema  "A Smuggler's Song", de Rudyard Kipling:

Five and twenty ponies,
Trotting through the dark
Brandy for the Parson, 
'Baccy for the Clerk;
Laces for a lady; letters for a spy,
And watch the wall, my darling, while the Gentlemen go by! 


A carruagem, que percorria a estrada chuvosa ao longo do pântano na estrada de Londres, subitamente parou. Uma barricada bloqueava o caminho. Figuras sombrias os cercaram. Christina não teve tempo de gritar antes que fortes braços a prendessem. Uma mão cobriu sua boca. Ela mordeu com toda a força. Ela olhou para o mascarado alto e misterioso e um calafrio a percorreu. Um par de olhos castanhos a observavam como ela nunca havia sido observada antes antes...


COMENTÁRIOS:

Christina Tretton, moça jovem e corajosa que morava nos EUA, volta para a Inglaterra, para ficar com a família em Sussex, após a morte do pai, durante a época das guerras napoleônicas. Durante a viagem a carruagem onde a moça está é assaltada e logo que ela chega na casa da família já se vê envolta em intrigas e correndo perigo. 
O livro tem vários elementos góticos: Tretteign Grange, a casa ancestral sombria, que fica em Romney Marsh, perto da costa inglesa, antigamente uma abadia e atualmente repleta de histórias de fantasmas; os parentes que a protagonista não conhecia até prometer, no leito de morte do pai, visitar; contrabandistas; segredos do passado e por aí a fora.
Apesar da história se passar no século 19 a mocinha é independente demais; não que eu não tenha gostado, só não casou com a parte histórica. A história é previsível mas muito agradável de ler. 
Temos, além de Christina, seu avô ranzinza, a tia dócil e dois primos, um dos quais, Ross, logo a conquista... bom, na verdade ela tenta se manter emocionalmente fora do controle dele, mas acaba se apaixonando. Alias, os diálogos entre o casal principal são muito bons. E, para completar, eu acho o título deste livro incrível. Alguns títulos são marcantes e Watch the Wall, my Darling é (para mim) inesquecível. Recomendo.

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Bela capa.

Linda a arte desta capa.
Amei o destaque dado ao vestido da moça,
neste tom vivo de amarelo.

Mais uma versão linda.
A arte das capas nos anos 60/70
são fabulosas.

The Brides of Bellenmore

Anne Maybury

SINOPSE:

Jovem, bela, inocente - Elizabeth Bellenmore não tem motivos para suspeitar que alguém na casa de sua avó queira matá-la, mas mesmo assim um forte par de mãos a empurrou da mesma escada que causara a morte de duas outras pessoas. A quem estas mãos pertenceriam? A sua avó, que pensava que a honra era mais importante que a vida? Sua tia, cuja gentileza disfarçava uma vontade de ferro? Sua adorável prima Armorel, cujo ciúme beirava a insanidade? Seu primo James, cujas investidas ela rejeitara? Ou Mark, que ela amava, mas que vivia a sombra da violência? Alguém acreditava que Elizabeth era uma ameaça a Bellenmore. Este alguém estava preparando um novo acidente. Seria um deles, mais de um, ou todos?

COMENTÁRIOS:

Muitos anos atrás a jovem Elizabeth costumava visitar seus parentes na impressionante mansão Bellenmore, mas ela não se sentia inteiramente a vontade no lugar e nem com seus parentes, salvo o primo Mark, que, ao contrário do irmão (James) sempre a incluíra nas brincadeiras e tentara fazer com que ela se sentisse bem vinda.
Quando o atual trabalho da moça como governanta chega ao fim ela é convidada para visitar Bellenmore novamente. Sua tia a recebe com entusiasmo, a avó com indiferença, o primo James a recebe de forma calorosa e sua esposa, Armorel, com frieza. O filho dos dois, Kenny, é uma criança doente e paralítica e muito, muito chata! Alias, a forma com que os pais o tratam é irritante demais!
Desde a ultima visita da moça muitas coisas haviam mudado além da presença de Armorel e Kenny. Mark, o adorado primo, era suspeito de assassinar a própria esposa, além disso era chamado pela família de charlatão por fazer uma abordagem diferente em relação a certas doenças.
Mais uma histórinha gótica, só que sem saber usar bem os clichês deste estilo. A protagonista alega ser diferente da família, voluntariosa, forte, justa, mas não demora um segundo a condenar Mark e a suspeitar dele. Em certo momento ela atira algo ao chão... acredito que era para reforçar o quão voluntariosa podia ser... mas ela só me pareceu mal educada mesmo. 
Estou lendo os livros de Anne Maybury que encontrei em e-book, mas confesso que está sendo difícil. Até agora estou detestando cada um deles. Geralmente o incio é bom, mas as coisas desandam demais antes da metade. Além disso, Maybury consegue escrever algumas personagens muito antipáticas ou sem charme e empatia. Vejamos se no lote que encontrei consigo pelo menos uma historia que me agrade.

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Interessante.
A protagonista tem uma antipatia pelo lustre principal da casa, 
então ficou divertido vê-lo na capa.

Meu estilo de capa,
mas a roupa não é da época certa.

Capas Divertidas

Capas de alguns Chick Lit e alguns romances de época com uma arte fofinha e nada realista ^.^











Carisbrooke Abbey

Amanda Grange.

SINOPSE:

Quando Miss Hilary Wentworth vai a uma entrevista de emprego na Abadia de Carisbrooke, ela não imagina que está mergulhando em uma onda de mistério e suspense. Seu arrogante empregador, Lord Marcus Carisbrooke, é tão enigmático quanto qualquer um dos heróis de seus romances góticos favoritos. Sob as maneiras grosseiras ela pode sentir que há uma grande dor. Assim que o exterior rígido de  Marcus começa a se dissolver, Hilary tem um vislumbre do homem que está no interior, mas quando ela descobre os segredos que assombram a Abadia, ambos ficam em grande perigo, um perigo do qual talvez não escapem.

COMENTÁRIOS:

Este livro é uma releitura de Jane Eyre. Menos profundo, menos intenso, menos misterioso, menos fantástico, mas divertido para ler em uma tarde ou noite. 
O desenvolvimento das personagens é raso e o romance começa rápido demais, mas isso não chega a estragar a leitura.
A protagonista, Hilary, é apresentada como uma mulher forte e inteligente, exatamente o tipo de mulher que Marcus Carisbrooke precisa. Como em Jane Eyre os dois são descritos como pessoas que não são bonitas, mas é fofo ao ler e ver que um olha para o outro e vê beleza; uma beleza diferente. Também como em Jane Eyre, Marcus tem um segredo, mas este segredo é diferente e não óbvio. Realmente o que menos me agradou foi a rapidez com que eles se apaixonam e depois o relacionamento de ambos parece que fica estagnado. Apesar destes defeitinhos, é uma leitura divertida, especialmente para os fãs de Jane Eyre e de literatura gótica.

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Bela capa,
apesar das cores escuras.

Os Corvos

OS CORVOS


Uma risada ecoa pelos becos semi-adormecidos da cidade; uma risada de dez timbres e com dez ecos. Crentes e incrédulos, crédulos e ateus, dormem e sonham, ou perseguem o sono com paixão, fazendo ou deixando de fazer, amando ou não, em sonho ou realidade, com ou sem paixão, todos ouvem dez ecos e uma verdade, e ela vem, sem compaixão ou piedade.
Eles surgem ao longe, caminhando no mesmo passo. Vestem-se de preto e brancos eles são. Parecem feitos de névoa e de névoa eles são.
Foi o canto de dez timbres que me arrancou do meu sono de morte, com seus dedos sedosos afagando-me as faces macilentas, sem perguntar o que eu desejava, sem pedir permissão.
Rasguei a terra, úmida das lágrimas da chuva, meti meu corpo para fora como uma criança que nasce e a lama tornou-se parte de mim.
Fazia frio, mas eu não o sentia e ao mesmo tempo era como se meu corpo fosse feito de gelo, e de gelo fosse a minha alma.
Veio a primeira mulher a mim, e das cinco era a mais jovem. Tinha grandes olhos e um sorriso de demônio.
Usavam eles cruzes pintadas sobre os olhos e prolongados os lábios por riscos nos cantos. A cada um, particular característica cabia; e a mulher mais jovem me fitou de forma direta, fazendo-se ouvir com sua voz vibrante:
­­- Comigo terás a perfeição de existir, sem erros ou arrependimentos, sem exitações ou temores.
E, falando isso, um beijo depositou em meus lábios. Seu nome era Vita, e vida ela me concedeu. 


“Em certo dia, à hora, à hora

Da meia-noite que apavora...”


“Era uma vez...” começaria sua história assim, como se fosse a princesa de contos de fadas, destinada a um final feliz.
Era uma vez uma jovem de dezesseis anos que desejava alcançar a perfeição em todos os sentidos. Seria então uma criatura perfeita, tanto nos traços quanto nos hábitos; diante de Deus e dos homens, e viveria o mais perfeito de todos os amores...mas, era uma vez uma jovem sonhadora de dezesseis anos, que não teve uma vida perfeita e nem longa.
Era uma vez uma jovem...
Era uma vez...
Já não era jovem...já não era viva.
Era uma vez um jovem que dizia amá-la. Não pode comprovar este amor. Para a guerra ele foi e na guerra pereceu. O amor foi com ele...o dele e o dela, ele e ela, pois foi como se a vida acabasse e não pouco a pouco; foi de uma só vez e vazia ela ficou.
A princesa chorou...não, tentou! Tentou e tentou, mas não pode. Seca de amor, de vida e de lágrimas. Estava morta, apenas não percebera...não, apenas não se deixara morrer.
Era uma vez a princesinha morta que caminhava no meio dos homens, seca de dor e amor e que no passado vivia...não, ela não vivia, apenas pensava viver.
Certo dia percebeu finalmente o que lhe acontecera e foi essa percepção que devolveu-lhe a vida, mesmo que por pouco tempo. Devolveu-lhe a vida, não a razão.
Louca de dor, a dor que por tanto tempo ignorara, tomada de indignação e raiva, consciente de que perdera a sua vida antes mesmo de a ter, abriu as veias com uma lâmina e sentada ficou, apreciando sua própria morte e a da alvorada.
Era uma vez uma história de amor que não chegou a acontecer.


De trás da mais jovem das mulheres, o primeiro dos homens surgiu, e belo ele não era, mas hipnótico sim, e sua voz era como um trovão, que a terra fazia tremer.
-Em mim verás a melancolia de existir, sem grandes felicidades ou alegrias, sem exaltações ou riscos.
E com o polegar desenhou em minha testa uma cruz. Queimou-me a pele onde tocou, mas a marca, na alma ficou; não uma cruz, e sim o nome: Salazar... o seu nome... e lá ele ficou.



Repouso (em vão) à dor esmagadora

destas saudades imortais.”


Não poderia dizer, ou mesmo afirmar, que o que fizera havia sido motivado pela perda do amor ou mesmo solidão. Fizera sim, mas o maior motivo que o levara ao seu fim fora a culpa e o medo. Que ele a amava, não havia dúvida, mas também a fizera sofrer, apesar de todo o amor que sentia.
Mesmo agora, depois de tantos anos ( por mais que tentasse não conseguia recordar o tempo exato) podia ver o rosto dela a sua frente...podia vê-la boiando no rio...podia ver-lhe as palmas voltadas para cima com a água tentando acordá-la. Foram as mãos brancas e murchas que ficaram realmente gravadas em sua memória: aquelas mãos que tantas vezes beijara. Depois de morta ela não o abandonara...ele não permitiria! Jamais poderia permitir!
Ia todas as noites até o rio, e sempre para passar pela mesma dor: vê-la boiando na água com os olhos vítreos fitando o vazio. Ver os cabelos vermelhos retorcendo-se em volta do rosto inerte. Então, vendo-a, colocava-se a rezar por ela e por si mesmo. Rezava por quase toda a noite...era a única coisa que em vida soubera fazer, e exatamente o que o condenara.
Culpava-se sim! Culpava-se por não tê-la defendido. Culpava-se por ter sido covarde. Culpava-se por ter lhe voltado as costas quando a vida dela dependera de apenas um olhar seu.
Deitara com ela, beijara ela, cobiçara ela e fugira dela.
Queria então tornar a deitar com ela, beijar ela, e ir ao encontro dela.
Os braços alvos pediam por seu toque, os lábios pálidos queriam seus beijos.
A água fria possuía aquele corpo, mas não a possuiria sozinha.
Fora a culpa, medo...mas também amor. De tudo, no entanto, só restara a dor e esta, a água ele ofertou...adeus a dor...adeus amor.


Veio a Segunda mulher e loiros eram seus cabelos. Sorriu-me com carinho e as faces me acariciou. Falou sussurrando em meu ouvido e meu coração tocou.
-Por mim serás e por mim sentirás. Amor posso tomar, embora não dar e a alma hei de te roubar.
E seus lábios a ponta de meu nariz tocou. Chamava-se Tiana... me fazia chamá-la...Tiana... te amo...Tiana...me ama...


Dentro, em meu coração, um rumor não sabido,

nunca por ele padecido.”


Olhos do mais profundo tom de verde, ostentando o brilho dourado salpicado em torno dos poços negros daquela alma e a vida a esvair-se num singelo e doloroso suspiro, que dos lábios escapava.
Olhos postos em olhos; um só dor, o outro amor. Um certeza, o outro surpresa.
Corpos colados num abraço de morte...morte em um, morte do outro...morte de um causada pelo outro.
Sangue quente em mãos frias e o choro de uma criança no corpo de um homem.
Agarrado ao corpo enxagüe, pouco a pouco caindo no chão, joelhos postos e a cabeça dela sobre o coração. Queria dizer-lhe que fora um acidente...queria dizer-lhe que a amava, mas sabia que de repente a morte se aproximava. E ela, entre surpresa e amedrontada, os dedos enterrados na carne dele, apenas esperava e chorava. Se uma alma possuía, a certeza já tinha, que por seus lábios ela vinha, deles escapava e vazia ela ficava.
“Não saia de mim”, pedia com suas lágrimas, mas a alma seus pedidos ignorava.
Sentiu nas faces as lágrimas dele, mas já não podia mais vê-lo.
Podia ouvi-lo, mas não entendê-lo.
Podia senti-lo, mas jamais voltaria a tê-lo.


E o próximo homem distante era. Belo, mas frio. Morto, mas quente e suas mãos se puseram diante de meu rosto como se o modelasse sem tocá-lo, e sua voz era aveludada, mas morta:
-De mim terás medo ou coragem. Por mim sentirás amor e voragem. Devora-te-ei o passado, presente e futuro.
Ele não precisou dizer-me seu nome, pois eu o vi em seus olhos: Zane!


A porta escancaro, e acho a noite somente,

Somente a noite, e nada mais.”


Mulher enganadora, que o iludira com mentiras cruéis, acompanhadas por falsos olhares amorosos. A face de anjo que ocultava o verdadeiro demônio que habitava aquela alma torpe. Lábios rubros que destilavam veneno, mãos que afagavam e unhas que dilaceravam. Assim como a amara passara a odiar e não mais se satisfaria em saborear-lhe a saliva; desejava-lhe o sangue, quente e vindo da fonte e que ela implorasse por perdão ao morrer, ou que não morresse e recebesse, no lugar da morte, o sofrimento eterno.
Depositara aos pés dela tudo o que fora, para só então descobrir que amor não teria e só desprezo sentiria.
Homem tolo que se iludira com mentiras cruéis. Se deixara levar pelo rosto belo e amoral, e por promessas falsas, vindas de lábios fatais.
Já não pagara por seus erros em vida? Fora enganado e levado a cometer um ato impensado.
Derramara sangue sobre a arena e tivera para si o último olhar dela antes da morte. Sustentara seu corpo por um longo tempo, ouvindo os gritos das pessoas, e o sangue banhara a terra e suas mãos. Jamais teria as mãos limpas novamente e muito menos o coração.
Perdera a vida por tomar a vida dela. Arrastado pelo povo, lançara um último olhar para o corpo caído no chão da arena, os olhos vítreos pareciam acusá-lo e os lábios zombavam dele como sempre fizera em vida.
Esses olhos sempre o perseguiram desde então. Sempre e sempre unidos pelo ódio e por algo mais que ele não conseguia compreender.
Fora condenado ao castigo eterno da lembrança. Sempre e sempre aquele olhar; sempre e sempre vivo mas morto.


Sobrepôs-se ao seu rosto o daquela emoldurado por mechas violetas e seu sorriso era nostálgico, como se do passado viesse e para lá devesse retornar.
-Em mim viverás e por mim desistirás daquilo que a ti eu ordenar, seja tua vida ou decisão de morte. Seja tua morte ou desejo pela vida.
E seus lábios macios minhas faces tocaram, ao mesmo tempo que o nome murmurava: Ília!


Com longo olhar escruto a sombra,

Que me amedronta, que me assombra,

E sonho o que nenhum mortal há já sonhado...”


Corria, e o coração em seu peito parecia bater no mesmo ritmo de seus passos. A cada vez que seus pés tocavam o chão, um frenesi, um arfar.
Por todo o caminho recordava-lhe as palavras e um sorriso em seus lábios se delineava.
-Sou culpado, bem o sei, mas como não o seria se, postos os meus olhos no teu semblante, perdi-me de amores no mesmo instante? Não! Culpado eu seria por não te amares e por não perguntar a Deus se é possível existir tão grande beleza que não no rosto de um anjo. Mil vezes culpado e mil vezes inocente.
E então a apertara entre os braços, esmagando-lhe os lábios num beijo de posse que a confundira e até mesmo chocara. Tamanha ânsia somente em um beijo não seria então um pecado mortal? Mesmo assim ia ao encontro dele, ardendo de temores e paixão. Queria sentir novamente no seu corpo o desesperado amor que ele lhe votava e ao mesmo tempo ser escrava e senhora.
Queria que ele a impregnasse do seu ser de tal maneira que fosse praticamente impossível ver-se livre do amor que sentia e que lhe era votado.
Corria no meio da madrugada pelos longos e desertos corredores e ia ao encontro dele. Não lhe contara...queria surpreendê-lo, queria vê-lo, estar com ele uma vez mais antes que partissem.
Entregaria tudo o que conhecera até então como vida para estar com ele e mesmo com pesar, a vida da irmã destruiria. Sentia medo mas não recuava. Mil vezes culpada e mil vezes perdoada.
No quarto as escuras entrou e os dedos pelas paredes deslizou.
Sentia-lhe o cheiro...respiravam o mesmo ar.
De costas, sorriu no momento em que ele tocou-lhe os ombros e beijou-lhe a nuca, murmurando “Bem vinda, meu amor.”
Começando a voltar-se para ele, desejosa de seus lábios, um gemido escapou-lhe, doloroso, ao sentir nas costas a lâmina fria rasgando-lhe a carne e ouvir um nome que não era o seu. “Bem vinda, meu amor e assim sendo, adeus.”


Surgiram abruptamente dois dos homens e entre eles outra das mulheres.
A luz existente pareceu concentrar-se toda nos três rostos, dois dos quais sorridentes.
Deram-se as mãos comigo no centro do círculo e, uma por vez suas vozes me envolveram:
-Sou teu passado...
-Sou teu presente...
-Sou teu futuro...
E enquanto falavam pareciam brincar de roda, me confundindo numa sucessão de rostos brancos.
-De mim sentirás saudade.
Falou-me o homem de olhos maldosos e sorriso ácido.
-A mim prezarás.
Murmurou a mulher com sarcasmo.
-Por mim sentirás pavor.
E aquele de olhar perdido, minhas mãos beijou.
-Teu passado se chama Meüjael.
-Teu presente se chama Marja.
-Teu futuro Mansur.
Então o passado, presente e futuro eu vi!


Um minuto, um instante. Tinha o aspecto de um

Lord ou de uma Lady. E pronto, e recto,

Movendo no ar as suas negras asas,

Acima voa dos portais.”


O fogo, erguendo-se acima dos corpos tomava proporções homéricas e parecia-lhe que estava a lhe sorrir, com sua enorme boca repleta de vítimas.
Sufocando com o cheiro e o desespero, corria para um lado e para outro e acabava apenas esbarrando naqueles que ao medo já se rendiam.
Procurava quase em agonia, mas nada...ninguém encontrava.
Quando seus olhos perceberam a verdade que não queria, perdendo parte das forças que ainda o animavam, de joelhos caía sobre o chão ensanguentado. “Mais um ou dois passo”, pensava, engasgado com o próprio pranto, sufocando com o grito que recusara.
“Mais um ou dois passos e eu conseguiria,” justificava, mas nem a si mesmo enganava.
Caído de bruços no chão, enterrando os dedos feridos na terra, arrastava-se pouco a pouco na direção dos dois corpos que, abraçados e sem vida, já não mais o esperavam.
“Mais um ou dois passos” pensava...e nada. Mãe e filha pareciam tão distantes então...tão fora do alcance quanto a sua própria vida estava.
“Deus!” Clamou.
“Deus!”...e de bruços ele ficou.
Nem mais um passo, nem mais dois passos...nem mais um pouco...jamais ele conseguiria.


Como te chamas tu na grande noite umbrosa?”


Deitada em sei leito com o corpo colado ao do amante, sentia contra seu peito o coração dele batendo em apaixonado desespero. Amava-o, sim...não! Amava-o, talvez...quando estavam juntos desejava estar com ele pelo resto da vida, mas quando se afastavam durante o dia, dúvidas surgiam e ela procurava, com ânsia mortal, os lábios deles e os seus braços a luz da lua.
Amava-o, talvez...não, talvez não! Queria ser livre, mas ele a mantinha em cativeiro. Procurava roubar a sua alma e controlar seu corpo.
Odiava-o, sim...não, odiava-o, talvez...quando estavam afastados desejava jamais tornar a vê-lo, mas quando se encontravam durante a noite, a certeza surgia, e ela procurava, com ânsia mortal escapar aos lábios dele e os seus braços durante o dia.
Odiava-o talvez...não, talvez não! Queria ser livre, mas ele não permitia. Procurava torná-la escrava e acabar com a sua vontade.
Deitada em seu leito com as mãos do amante em sua garganta, exalou o último suspiro dentro da boca dele, sentindo-lhe o coração bater em apaixonado desespero.
Não precisaria mais preocupar-se em ser livre ou não, pois ele decidira em seu lugar.
Escrava, submissa...não! Não submissa. Escrava, sim, mas livre daquele amor...


Jamais homem há visto

Coisa na Terra semelhante a isto.”


O último nome que pronunciou foi o dela, imerso em dor e sangue. Sentia-se feliz, no entanto. Feliz pela felicidade de ambos.
Jamais vira, em todos os tempos, faces tão radiantes e, em momento algum, até aquele, percebera o verdadeiro sentido da palavra amor.
Morria feliz relembrando dos corpos juntos sobre o cavalo acenando-lhe, sorrisos estampados nos rostos, esperança nos olhos.
Amava-a tanto que só a ideia de sua doce existência trazia-lhe lágrimas aos olhos e uma dor profunda no peito.
Amava-o também, a toda a vida que ele irradiava.
Juntos eles eram a própria vida.
Pouco a pouco ia relembrando palavra por palavra, olhar por olhar, momento por momento e, apesar da dor, ele mesmo sorria.
Fechando os olhos, transformava a tontura em uma vertiginosa experiência, para então ser desperto de seus delírios pela água fria. Novamente sal nas feridas, novamente dor...os dois pareciam afastar-se, mas ele os trazia de volta e a dor quase desaparecia.
Sentiria saudades das noites de estrelas ouvindo as canções dele; sentiria falta de ficar admirando o rosto dela em adoração, enlevada pela música. Haviam sido um só ser então.
Não julgara que poderia ser feliz sem eles e por isso se entregava a morte, mas então “ele” surgiu. Era negro e brilhante. Uma figura fantástica descendo do céu, planando com suas asas abertas, sobre seu ombro indo postar-se. Num piscar de olhos tudo se acabara...tudo começara.


A última das mulheres veio e segurando-me a cabeça com as mãos, a mim segredou:
-Serei tua dor, teu pranto e sofrimento. Serei teu amor, alento e pensamento.
E a testa ela me beijou. A esta, o nome perguntei e a resposta ela me soprou: Sian!


Parece, ao ver-lhe o duro cenho,

Um demônio sonhando.”


Sob a superfície imaculadamente lisa da piscina natural, as águas mudaram de cor anunciando algo a alterar-se no seu cerne; um ondular de cores e borrões, procurando unir-se para revelar o rosto do passado. A face de radiante e melancólica beleza, que da água surgiu pouco a pouco, revelando ao mundo os lábios ainda rubros de amor e os olhos azuis de paixão, saudou a sua com a pureza de um sorriso. Mergulhando as próprias mãos na água pulsante, seus dedos tocaram os dele e borbulhas os envolveram como se o corpo liquido seus toques sentisse.
-pode o meu amor ser tão grande, que me apunhale o peito e dele arranque o doce sangue e minha vida? Se assim for, que o doce se transforme em sal ou que vazias minhas veias se tornem, sem que jamais eu saiba o que teria sido viver na eternidade sem tua face conhecer.

E o corpo esguio, envolto pela clara pele do entardecer no inverno, acolheu o dela; e seus braços jovens e nus fecharam-se em torno do corpo jovem e nu que viera recebê-la. Não, não eram braços aprisionando-a e sim asas e pernas entrelaçadas a pernas, bocas procurando bocas, olhos mergulhando em olhos...acima de tudo, no entanto, a voz dele, mais doce que o seu sangue.

-Fiquemos juntos então, e que o punhal do amor atravesse meu corpo sem que eu o repudie, nem mesmo por um segundo.

-Pode o amor ser tão cruel que jamais nos permita a paz em nossas almas quando encontramos aquele por quem procuramos desde a concepção?

Lábios contra lábios, intercalando a respiração com palavras sussurradas e dedos afoitos, percorrendo faces ardentes como se as pontas macias possuíssem a capacidade de memorizar o que tocavam.

-Pode o amor tornar tudo o mais tão insignificante, distante do ser de nossa afeição, que pouco nos importe a humanidade que se localize a um metro ou mil se ela não atender pelo teu nome?

Lábios deslizando por garganta, colo e ombros como se pela pele, toda a essência da vida pudesse roubar.

-Fiquemos juntos então, que nos meus braços eu acolha a própria morte e que com os meus dedos eu lhe afague a cabeça. Vem até mim, meu amor, e que para mim tu sejas a morte do que eu fui e a vida o que serei.
Doce é a dor dos amantes que morrem juntos, pois a eles é dada a oportunidade de exalar o último suspiro, um com os lábios colados aos do outro.
Profundo é o desespero dos amantes que encontram-se separados na morte.
Grande é a raiva dos amantes quando percebem a traição do amor e a paz jamais eles alcançarão.

Com uma risada de loucura e os braços abertos como se asas eles fossem, o último dos homens de mim zombou, e de todos o mais belo ele era e também, maior a sua dor.
- “ Regressa ao temporal, regressa a tua noite, e deixa-me comigo...”
E com semelhantes palavras, uma mesura ele fez, colocando-se de lado como se de cena ele saísse.


A minha alma, que chora,

Não sai mais, nunca, nunca mais!”


O tique-taque do relógio não mais parecia irritá-lo. Nada mais parecia ter essa capacidade. Escutava o som, agarrando-se a ele com o pouco de força que lhe restava e a única coisa que sentia, além da tristeza, era o vento que entrava pela janela aberta agitando as cortinas.
Com os olhos abertos, não via a sala em que estava e sim seu passado. O dia do casamento...vira a saída da noiva permanecendo afastado, oculto pelo tronco largo de uma das árvores...recordava a dor, o sofrimento. Nunca ela lhe parecera tão bela e trágica. Havia se afastado no momento em que os lábios do noivo tocaram as faces dela...percebera os olhos tristonhos olhando na direção oposta, tão distante, tão sem paixão.
Na noite anterior fora ele a beijá-la. Tomara o rosto pálido e macio nas mãos, mergulhando os olhos nos dela e depois apreciando os lábios entreabertos, com o peito doendo de tanto amor, e, apesar do desejo, trouxera o rosto dela para perto lentamente, roçando os lábios em sua testa, como convinha a um irmão.
Sabia que jamais outro homem conseguiria amá-la como ele, e sabia que jamais poderia tornar a amar alguém se não fosse ela.
Havia caminhado por tanto tempo, durante toda noite, e mesmo assim ela não saía de sua lembrança. Mesmo agora, quando tudo se acabara para ele, seus últimos pensamentos eram para ela.
O relógio continuava tocando e o vento soprando...ele não via mais nada...a não ser ela...sentia-lhe os dedos mornos fechando-lhe os olho com carinho...ele não via mais nada, nem mesmo ela.


Permaneci observando-os, belos, assustadores.
Uma só voz falando por todos, sem que lábios se movessem. Uma voz com dez timbres soando em minha mente e coração, cercando-me, amando-me...eu podia sentir-lhes o amor...e a dor...
Dizia-me a voz a sina dos corvos. Sofrimento e desespero; desilusão e paixão. Perdidos estavam e assim ficariam.
Prometiam a libertação, a confissão e a redenção.
Viva ou morra mas deixe de sofrer, ou seja, como nós. Receba a oportunidade da vingança ou a trégua da paz.
Sem dor, sem amor...venha a nós, viva em nós.



"Não pode haver justiça aonde
não há verdade.
E qual é a verdade?
Quem souber que me diga, mas eu
não vou acreditar.
Nada é o que parece ser.
Por baixo de luvas limpas há sempre
mãos sujas e as minhas são as mais
sujas de todas.”


-Aeon Flux-





 
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