The Graveyard Book.
Neil Gaiman.
SINOPSE:
Enquanto seus pais e irmã são impiedosamente assassinados por um misterioso homem chamado Jack, um bebê consegue escapar de seu berço e se aventurar pelo mundo. Uma série de coincidências, aliada a uma grande dose de sorte, salva o pequeno de ter um destino tão trágico quanto o de sua família.
HISTÓRIA:
O Livro do Cemitério começa exatamente no momento em que o desconhecido e assustador Jack acabara de matar a família do protagonista, ainda um bebezinho fujão, que adorava escapar de seu berço. Foi este costume que salvou a criança, futuramente chamado de Ninguém Owens.
Enquanto o crime era consumado, o bebê, após fugir de seu quarto e encontrar a porta de entrada da casa aberta, engatinhara até o cemitério, que ficava no fim da rua, em uma colina, e o assassino não conseguira alcançá-lo antes dele entrar no cemitério e ser salvo por um casal de fantasmas da Inglaterra Vitoriana, os Owens.
Como havia uma regra muito importante de que nenhum humano poderia viver em um cemitério (entre os mortos), os "moradores" do local realizam uma assembléia para decidir o que fazer,e, com a permissão do misterioso Silas (uma espécie de zelador do cemitério e vampiro em horário integral) concordam em deixar a criança morar ali.
O garoto é batizado de Ninguém e recebe o sobrenome dos pais adotivos: Owens, o casal de fantasmas que o havia encontrado e salvo da morte.
Silas se torna tutor de Ninguém, já que, não sendo um fantasma, é o único que pode conseguir alimentos, vestuários e outros bens necessários para o dia-a-dia de uma pessoa comum.
É assim que Nin passa a viver no cemitério da colina, entre fantasmas, túmulos, lendas, segredos e mistérios a serem revelados, além de outras criaturas fantásticas, como o vampiro Silas.
Ao longo da história vamos acompanhando o crescimento de Nin, de bebê a adolescente e tudo o que este crescimento envolve, como seu treinamento especial para poder viver entre os mortos e o sobrenatural. Este treinamento permite que ele, além de ver e conversar com fantasmas, possa atravessar paredes, entrar nos sonhos de outras pessoas e muito mais (o que é extremamente legal).
Permeando o que acontece ao longo dos anos, está sempre presente a sombra do assassino da família de Nin, que continua a sua procura e que não descansará até matar o garoto.
COMENTÁRIOS
Sou suspeita para comentar os livros de Neil Gaiman, afinal, sou fã assumida desde que descobri Sandman, aos 18 anos. Além disso, também sou fã de Dave McKean, que fez as ilustrações do livro e responsável pelas fabulosas capas de Sandman.
Originalmente Neil Gaiman criava textos extremamente pesados e com um certo tom de delírio e fatalidade, mas ao longo dos anos começou a variar, especialmente após escrever a quatro mãos com Terry Pratchett.
Mergulhando no campo da literatura infantil, Gaiman não subestima a inteligência das crianças nem dos adolescentes e trás em suas páginas uma visão mais leve e até bonitinha da morte., apesar do terror permanecer, mesmo que enfeitado ao estilo Tim Burton.
Pelo que li a respeito da história, Neil Gaiman buscou inspiração em Mogli, O Livro da Selva, de Rudyard Kipling, para a criação de O Livro do Cemitério e é bem fácil fazer um paralelo entre as duas obras... só que eu confesso que O Livro do Cemitério me encantou bem mais do que Mogli :-)
O livro vai virar filme (ebaaaa) e eu não vejo a hora de apreciar a história de Ninguém Owens na telona. Espero do fundo do coração que não alterem nada, como fizeram com a adaptação de Coraline. Minha esperança maior reside no fato de Gaiman estar bem envolvido no projeto.
Além disso, também vai ser publicado em quadrinhos (duplo ebaaaa).
PASSAGEM DO LIVRO:
CAPÍTULO UM
De como ninguém ia ao cemitério
AMÃO ESTAVA NO escuro
e segurava uma faca.
A faca tinha um cabo de osso preto e lustroso, e uma lâmina mais fina e mais afiada do que qualquer navalha. Se ela cortasse você, não daria para saber que foi cortado, não de imediato. A faca tinha feito quase tudo o que fora fazer naquela casa, e ambos, lâmina e cabo, estavam úmidos. A porta da rua ainda estava aberta, só um pouco, onde a faca e o homem que a segurava se esgueiraram para dentro, e fiapos da neblina noturna deslizavam e se enroscavam para dentro da casa pela porta aberta. O homem chamado Jack parou no patamar da escada. Com a mão esquerda, pegou um grande lenço branco no bolso do casaco preto e com ele limpou a faca e a mão direita enluvada que a segurava; depois guardou o lenço. A caçada estava quase chegando ao fim. Tinha deixado a mulher na cama, o homem no chão do quarto, o filho mais velho em seu quarto de cores vivas, cercado de brinquedos e modelos inacabados. Então só restava o menor, um bebê que nem completara dois anos, para cuidar. Mais um e a tarefa estaria terminada. Ele flexionou os dedos. O homem chamado Jack era, acima de tudo, um profissional, ou assim ele dizia a si mesmo, e não se permitiria sorrir antes de concluir seu trabalho.
Seus cabelos eram escuros, os olhos eram escuros, e ele usava luvas pretas da mais fina pele de cordeiro. O quarto do bebê ficava na parte mais alta da casa. O homem chamado Jack subiu a escada, os pés abafados pelo carpete. Depois empurrou a porta do sótão e entrou. Seus sapatos eram de couro preto e engraxados com tal brilho que pareciam espelhos escuros: dava para ver a lua refletida neles, uma meia-lua fina.
A lua de verdade brilhava pela janela de caixilho. Sua luz não era forte, a neblina a deixava difusa, mas o homem chamado Jack não precisava de muita luz. O luar era suficiente. Teria de ser. Ele podia distinguir a forma da criança no berço, a cabeça, os membros e o tronco. O berço tinha laterais altas e ripadas para evitar que a criança saísse. Jack se curvou, ergueu a mão direita, a que segurava a faca, mirou no peito... e, em seguida, baixou a mão. A forma no berço era um ursinho de pelúcia. Não havia criança alguma. Os olhos do homem chamado Jack estavam acostumados ao luar fraco, por isso não quis acender a luz. E, afinal, a luz não era importante. Ele tinha outras habilidades. O homem chamado Jack cheirou o ar. Ignorou os odores que tinham entrado no quarto com ele, desprezou os cheiros que podia ignorar com segurança, aprumou o nariz para o cheiro da coisa que viera encontrar. Sentia o cheiro da criança: um cheiro leitoso, de biscoito de chocolate, com o toque azedo de uma fralda descartável molhada. Ele podia sentir o cheiro do xampu do bebê e de algo pequeno, de bor racha - um brinquedo, pensou ele; não, alguma coisa para chupar -, que a criança carregava. A criança estivera ali. Não estava mais. O homem chamado Jack seguiu o que o nariz lhe dizia escada abaixo da casa alta e estreita. Examinou o banheiro, a cozinha, o armário de roupa de cama e, por fim, o corredor do primeiro andar, em que não havia nada para ver, a não ser as bicicletas da família, uma pilha de sacolas de compras vazias, uma fralda caída e as gavinhas errantes de névoa que se insinuavam para o corredor pela porta da rua aberta.
O homem chamado Jack fez um barulhinho, um grunhido que continha ao mesmo tempo frustração e satisfação. Deslizou a faca por sua bainha no bolso interno do casaco comprido e foi para a rua. Havia luar e os postes de rua, mas a neblina a tudo sufocava, obscurecia a luz e abafava os sons, tornando a noite sombria e traiçoeira. Ele desceu a ladeira para a luz das lojas fechadas, depois subiu a rua, onde as últimas
casas altas encimavam a ladeira a caminho da escuridão do antigo cemitério. O homem chamado Jack farejou o ar. Depois, sem pressa, começou a subir a ladeira."
AMÃO ESTAVA NO escuro
e segurava uma faca.
A faca tinha um cabo de osso preto e lustroso, e uma lâmina mais fina e mais afiada do que qualquer navalha. Se ela cortasse você, não daria para saber que foi cortado, não de imediato. A faca tinha feito quase tudo o que fora fazer naquela casa, e ambos, lâmina e cabo, estavam úmidos. A porta da rua ainda estava aberta, só um pouco, onde a faca e o homem que a segurava se esgueiraram para dentro, e fiapos da neblina noturna deslizavam e se enroscavam para dentro da casa pela porta aberta. O homem chamado Jack parou no patamar da escada. Com a mão esquerda, pegou um grande lenço branco no bolso do casaco preto e com ele limpou a faca e a mão direita enluvada que a segurava; depois guardou o lenço. A caçada estava quase chegando ao fim. Tinha deixado a mulher na cama, o homem no chão do quarto, o filho mais velho em seu quarto de cores vivas, cercado de brinquedos e modelos inacabados. Então só restava o menor, um bebê que nem completara dois anos, para cuidar. Mais um e a tarefa estaria terminada. Ele flexionou os dedos. O homem chamado Jack era, acima de tudo, um profissional, ou assim ele dizia a si mesmo, e não se permitiria sorrir antes de concluir seu trabalho.
Seus cabelos eram escuros, os olhos eram escuros, e ele usava luvas pretas da mais fina pele de cordeiro. O quarto do bebê ficava na parte mais alta da casa. O homem chamado Jack subiu a escada, os pés abafados pelo carpete. Depois empurrou a porta do sótão e entrou. Seus sapatos eram de couro preto e engraxados com tal brilho que pareciam espelhos escuros: dava para ver a lua refletida neles, uma meia-lua fina.
A lua de verdade brilhava pela janela de caixilho. Sua luz não era forte, a neblina a deixava difusa, mas o homem chamado Jack não precisava de muita luz. O luar era suficiente. Teria de ser. Ele podia distinguir a forma da criança no berço, a cabeça, os membros e o tronco. O berço tinha laterais altas e ripadas para evitar que a criança saísse. Jack se curvou, ergueu a mão direita, a que segurava a faca, mirou no peito... e, em seguida, baixou a mão. A forma no berço era um ursinho de pelúcia. Não havia criança alguma. Os olhos do homem chamado Jack estavam acostumados ao luar fraco, por isso não quis acender a luz. E, afinal, a luz não era importante. Ele tinha outras habilidades. O homem chamado Jack cheirou o ar. Ignorou os odores que tinham entrado no quarto com ele, desprezou os cheiros que podia ignorar com segurança, aprumou o nariz para o cheiro da coisa que viera encontrar. Sentia o cheiro da criança: um cheiro leitoso, de biscoito de chocolate, com o toque azedo de uma fralda descartável molhada. Ele podia sentir o cheiro do xampu do bebê e de algo pequeno, de bor racha - um brinquedo, pensou ele; não, alguma coisa para chupar -, que a criança carregava. A criança estivera ali. Não estava mais. O homem chamado Jack seguiu o que o nariz lhe dizia escada abaixo da casa alta e estreita. Examinou o banheiro, a cozinha, o armário de roupa de cama e, por fim, o corredor do primeiro andar, em que não havia nada para ver, a não ser as bicicletas da família, uma pilha de sacolas de compras vazias, uma fralda caída e as gavinhas errantes de névoa que se insinuavam para o corredor pela porta da rua aberta.
O homem chamado Jack fez um barulhinho, um grunhido que continha ao mesmo tempo frustração e satisfação. Deslizou a faca por sua bainha no bolso interno do casaco comprido e foi para a rua. Havia luar e os postes de rua, mas a neblina a tudo sufocava, obscurecia a luz e abafava os sons, tornando a noite sombria e traiçoeira. Ele desceu a ladeira para a luz das lojas fechadas, depois subiu a rua, onde as últimas
casas altas encimavam a ladeira a caminho da escuridão do antigo cemitério. O homem chamado Jack farejou o ar. Depois, sem pressa, começou a subir a ladeira."
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