Escrito por Georgette Heyer.
A história tem lugar em 1817-1818 (Regência) e nos apresenta personagens cativantes, costumes da época e diálogos vivos, geralmente carregados de ironia divertida. Abertamente inspirado em Jane Austen e no seu famoso Sr. Darcy, O Tio Sylvester foi desenvolvido com mais detalhes do cotidiano de seu protagonista e dos seus pensamentos, tornando-nos participantes mais ativas da obra.
Nosso herói tem 28 anos e é rico, dono de vastas propriedades e lider da família, tendo assumido esse posto ainda muito jovem. Foi educado para ter bons princípios, mas deixou de segui-los, entregando-se ao orgulho e a vaidade. Isso não o torna um vilão, no entanto, apenas um jovem de grande fortuna que crê ser superior aos demais devido a sua posição social. O romance explora a forma como um jovem em tais circunstâncias poderia ser qualquer coisa que não arrogante.
O romance começa mostrando Sylvester em sua casa, livre da mascara que ostenta em sociedade. É fácil imaginar o Sr. Darcy na mesma situação, vendo primeiro, não o egoísmo dele, mas sua bondade para com seus servos, sua preocupação em manter o dever acima do prazer, suas memórias de infância, seu amor pela mãe inválida, com quem tem uma relação baseada no afeto mútuo e genuíno. Descobrimos que Sylvester nunca se apaixonou, mas que decidiu tomar uma esposa pelo bem do nome da família. Ele tem uma pequena lista de candidatas (que apresenta para a chocada Duquesa) e não tem dúvidas de que qualquer uma das integrantes desta lista ficaria mais do que grata por ser a escolhida.
Enquanto Sylvester é o herói deste livro, Phoebe é tudo menos uma heroína padrão. Ela não é nem bonita nem feia: é pequena, magra, intrépida e quase destemida. É a filha única do primeiro casamento de seu pai, colocada de lado, sem receber simpatia ou compreensão tanto do pai quanto da madrasta e das irmãs. Seu consolo é escrever; Phoebe é uma escritora, autora de um romance Gótico salpicado com caricaturas de pessoas que ela encontrou na sociedade durante a sua temporada em Londres.
A destemida moça, ao ser informada pela madrasta e pelo pai que o Duque (que ela secretamente despreza) vai visitá-los para pedir-lhe a mão em casamento, foge com a ajuda do melhor amigo, pretendendo ir a Londres e se abrigar com sua avó materna. Esta reação deixa o Duque indignado e surpreso (afinal, como alguém poderia se recusar a casar com ele?).
Por força do destino Phoebe e o Duque acabam por ficarem "presos" na mesma estalagem, enquanto o Sr. Orde se recupera de um acidente e eles aguardam por transporte. Assim temos a primeira integração entre os protagonistas (é interessante que Phoebe tenha usado o Duque para descrever o vilão de seu romance gótico e, aos poucos, sua opinião sobre ele vai mudando).
Grande parte do romance é um "road book", com encontros enquanto os personagens viajam, oferecendo oportunidades para os personagens ficarem conhecendo uns aos outros dentro de um período relativamente curto de tempo. Há também cenas de conjunto durante a temporada social, incluindo umacena em um salão de baile de Londres.
Mas é o elenco de personagens secundárias que fazem deste livro uma leitura verdadeiramente deliciosa. Temos o amigo de infância de Phoebe, Tom Orde; a madrasta, LadyMarlow; Alice, filha da proprietária de uma pousada; a linda e estúpida cunhada de Sylvester, Ianthe (Lady Henry Raine), com seu filho de seis anos de idade, Mestre Edmund Raine e seu pretendente dândi, Sir Nugent Fotherby. Cada personagem é memorável e muitas vezes muito engraçado. Com habilidade Heyer nos leva do romance a comédia altamente desenvolvida, com elementos de melodrama escondidos para zombar das convenções de gênero. Eu recomendo este livro. É divertido, inteligente e delicioso :-)