Shirley Jackson.
Publicada pela primeira vez em 1959.
Adaptado para o cinema em 1963 (ótimo filme) e 1999 (péssimo filme).
SINOPSE:
O livro conta a expedição organizada por um doutor chamado Montague, para comprovar a existência de eventos sobrenaturais em uma casa amaldiçoada, construída por um milionário excêntrico chamado Hugh Crane. Após muita insistência por parte de Montague, a atual dona da casa permite a expedição, desde que o futuro herdeiro (seu sobrinho Luke) faça parte dela.
Após diversas pesquisas, ele escolhe quatro pessoas com prováveis envolvimentos em eventos paranormais e, dentre elas, apenas duas realmente comparecem a Hill House:
Theodora, mas conhecida como Theo, que supostamente possui alguma percepção extra-sensorial e Eleanor Vance, uma solteirona que passou praticamente toda a sua juventude cuidando da mãe doente, a que agora vive com a irmã e o cunhado. Na infância de Eleanor, ocorreu um incidente onde choveram pedras durante vários dias sobre sua casa, o qual ela refuta calorosamente.
A casa é composta de portas que nunca permanecem abertas, salas que possuem ângulos totalmente estranhos, e uma criada que nunca permanece lá após o escurecer. Uma aura de mistérios e tragédias envolvem a casa. Pessoas se mataram, a esposa de Crane teve um acidente de cavalo no caminho para a sua primeira visita a casa, entre outras.
Existem 4 pessoas na expedição, mas o livro é focalizado em Eleanor Vance, uma solteirona completamente narcisista, de imaginação fértil e um poço de rancor e ódio reprimido. A casa começa a enviar sinais, que no início atingem a todos e depois tornam-se mais específicas e se direcionam a ela especificamente. Eleanor pensa suspeitar que a casa a quer muito próxima, e não vai deixá-la ir embora. O que a aterrorizava no início agora a atrai. Ou será tudo um produto da imaginação de Eleanor?
COMENTÁRIO:
A protagonista desta história chama-se Leonor Vance e desde os primeiros parágrafos percebemos que ela é um tipo peculiar de pessoa: fraca, neurótica, depressiva, insegura e rancorosa. Sua vida é vazia; sem amigos, sem divertimentos, sem nenhum momento de satisfação. Primeiro havia cuidado da mãe até esta morrer, depois passara a cuidar dos filhos mal educados de sua irmã, dormindo na sala da família. Exatamente por ter uma vida tão miserável, Eleanor fica eufórica ao ser convidada para passar o verão em uma casa supostamente assombrada.
É aí que entra o Dr. Montague, que convidara um grupo de pessoas (todas envolvidas em acontecimentos paranormais) para passarem o verão em Hill House com intenção de realizar uma pesquisa na tal casa. Das pessoas convidadas por ele apenas Eleanor e Theodora aparecem no local, além de Lucas, futuro proprietário de Hill House. Estes são os personagens principais, que ao longo das páginas se aproximam e se tornam algo como amigos, ao longo dos dias e das experiências sobrenaturais vividas na casa (sem esquecer as participações arrepiantes da criada, que jamais ficava após o anoitecer)
Vou confessar a vocês que meus nervos ficavam como que esticados feito elástico, enquanto eu lia (li durante a noite de propósito). Da abertura do livro até o encerramento às vezes eu me pegava tensa, como medo de ler o que viria a seguir, como se eu estivesse na casa e como se visse e ouvisse o que eles viam e ouviam. O livro não cai em descrições do que há, mas sugere o que pode ser e isto, na minha opinião, é muito, muito mais assustador.
Acompanhamos Leonor em seu caminho pela libertação, criando fantasias sobre o que sua vida poderia ter sido e decidida a mudar sua história após sair de Hill House. Infelizmente a casa a absorve com seus terrores e a paranoia de Leonor se torna cada vez mais forte, tornando-a uma paródia do que ela já era. Em certos momentos cheguei a conclusão de que não havia mais o que ser feito por ela, afinal, o que a aguardava após sair daquele lugar?
Pois bem, apesar das coisas assustadoras que começam a acontecer com eles, Eleanor sente pela primeira vez em sua vida que pertence a algo, no caso, a Hill House. Não cheguei a conclusão se Eleanor foi quem motivou os acontecimentos sobrenaturais, meio como se alimentasse a casa, ou se ela mesma criara todo o horror devido a sua paranoia, mas a dúvida só engrandeceu esta leitura.
Os momentos de horror são alternados com momentos de pura calma, quase num tédio preguiçoso, mas isto é para desarmar você. Quando menos se espera vem algo que te arrepia até por dentro do estômago.
Eu confesso que vi o filme primeiro, nos áureos tempos que a TNT passava filmes antigos do melhor tipo. Fiquei olhando por sobre o ombro, mais consciente do que nunca aos sons da noite, hehehehehe. Anos depois, após muita procura, consegui encontrar o livro e tive sorte por consegui-lo em um sebo a preço de banana (o livro é bem caro nas lojas virtuais). O que posso dizer é que o filme captou a verdadeira essência do livro e que os dois se completam perfeitamente. Eu recomendo repetidas vezes, para quem gosta de um horror subjetivo, de usar a imaginação, de sentir calafrios com um suspense sobrenatural cheio de classe e que jamais esquecerá a abertura, tanto do livro quanto do filme:
" Nenhum organismo vivo pode existir com sanidade por longo tempo em condições de realidade absoluta; até as cotovias e os gafanhotos, pelo que alguns dizem, sonham. A casa da Colina nada sã, erguia-se solitária em frente de suas colinas, agasalhando a escuridão em suas entranhas; existia há oitenta anos e provavelmente existiria por mais outros oitenta. por dentro, as paredes continuavam eretas, os tijolos aderiam precisamente a seus vizinhos, os soalhos eram firmes e as portas se mantinham sensatamente fechadas; o silêncio cobria solidamente a madeira e a pedra da Casa da Colina, e o que por lá andasse, andava sozinho."
Eu sou absolutamente fascinada por este inicio, especialmente a parte "o que por lá andasse, andava sozinho". É interessante que muitos outros autores usaram esta obra de Jackson como inspiração. Posso citar Stephen King, no filme (com roteiro escrito por ele) Rose Red ( a chuva de pedras no telhado da casa da menina aconteceu com Eleanor, quando ela era criança, assim como a casa em si, que é uma entidade).
AQUI você pode ler uma resenha ótima sobre o livro ( no blog Além da Imaginação).
AQUI você pode ler uma resenha ótima sobre o filme de 1963 (esqueça o de 1999).
Esta é a capa do meu exemplar. Uma pena que ela é muito feia :-)
Apesar da caveira ao fundo, que eu achei tosca, a moça subindo a escada segurando uma vela e cercada pela escuridão ficou perfeita :-)
Bela capa. Parece capa de Pocket, mas eu gostei.
Nada a ver com o local onde se passa a história.
Eu não compraria um livro com esta capa sem saber que a história seria perfeita.
Não, não e não. Péssima.
Bem, o que vocês acharam? Este tipo de capa impessoal me repele.
Capa feita com captura de cena do filme de 1966. Theo a esquerda e Eleanor a direita :-) Como vocês podem ver, elas estão apavoradas e eu, neste momento, também estava.
Esta é a bela Hill House, a casa que parecia observar as pessoas que dela se aproximavam e cujas portas jamais ficavam fechadas. Acho que vou reler o livro pela milionésima vez :-D
9 comentários:
Impressão minha, ou a premissa do livro é meio H.P. Lovecraft (Cuthulu)?
Não exatamente. Acho que a sensação de não haver escapatória de um fim trágico é a única semelhança. O Lovecraft escrevia um terror mais explícito e cru :-)
Isso mesmo, a idéia de inevitável (morte ou loucura) me lembrou the Call of Chuthulu, inclusive aquele jogo de tabuleiro legal do Chikago.
Olá, Arismeire; muito obrigado pela indicação de minha resenha no blog Além da fértil imaginação, me senti lisonjeado. E realmente sou um daqueles que amam livros, da capa a contra-capa.
Seu blog é demais, já está nos meus Favoritos!
Atémais.
De nada, Moisés. Citei seu blog porque ele é muito bom :-)
Onde encontro o livro pra comprar?
Gustavo, na Estante Virtual havia algumas livrarias que disponibilizavam este livro. Dá uma olhadinha, pode ser que ainda tenha a venda ^^
Bj, Aris.
Oi, Arismeire!
Pois é, após muita procura, encontrei o livro num sebo aqui de Curitiba, hehe. O preço estava salgado, mas beeem menos que na internet.
Estava tão ansiosa pra ler que não esperei por mais nada, mal tive um tempinho já comecei a leitura.
Estou ainda no início, quando a tal Eleanor chega na Casa da Colina... e... que decepção! O estilo de Shirley Jackson é tão anos 50, rsrs... Como estamos super acostumados ao ágil e inovador estilo de Stephen King, Peter Straub, Guillermo de Toro, etc., aquele mimimi de "imaginar isso, imaginar aquilo" torna a leitura bem chatinha.
Devo confessar que, de início, a coisa toda me parece morna, quase insípida. A vida de Eleanor e a forma como é narrada chega a dar coceira de irritação! Você está certíssima: Ô personagem chata!
Vamos ver se o restante do livro (que, no fim de contas, é até bem fino) vai valer o que foi gasto nele, rs.
Boa resenha, ótima ideia a sua, de colocar as capas de várias edições. Gostei mais daquela da moça na escada.
Bjoss!
Jossi, o mais interessante de tudo é que o Stephen King se inspirou na obra da Shirley para escrever vários de seus livros, sendo que ele mesmo gosta de citar o nome dela como uma das maiores escritoras de terror de todos os tempos. A releitura que ele fez de Hill House eu gostei muito, pena que ele só escreveu em roteiro e não em livro (Red Rose). Tenta encontrar na internet A Loteria, da Shirley. Foi este conto que inspirou o King a escrever As Crianças do Milharal.
Bj.
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